"Temos enraizado uma tradição muito forte de poder
relacionado ao indivíduo que o detém", avalia Denise. "E isso até
hoje interfere na maneira como vemos os direitos e deveres desse tipo de
funcionário.""A
coroa portuguesa estimulava pessoas e dizia: 'vão para o interior e podem
mandar à vontade por lá', na tentativa de garantir a soberania do império com
alguém morando no local"
Corrupção no Brasil tem origem no
período colonial, diz historiadora
Mariana
Della Barba
da BBC
Brasil em São Paulo
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O motorista que oferece uma cerveja para o guarda não multá-lo. O
fiscal que cobra uma "ajuda" do comerciante. O ministro que compra
apoio político. A corrupção está enraizada em vários setores da sociedade
brasileira. E nada disso é recente, segunda a historiadora Denise Moura, que
diz que a prática chegou junto com as caravelas portuguesas.
"Quando Portugal começou a colonização, a coroa não queria abrir
mão do Brasil, mas também não estava disposta a viver aqui. Então, delegou a
outras pessoas a função de ocupar a terra e de organizar as instituições
aqui", afirma a historiadora.
"Só que como convencer um fidalgo português a vir para cá sem
lhe oferecer vantagens? A coroa então era permissiva, deixava que trabalhassem
aqui sem vigilância. Se não, ninguém viria."
Assim, a um oceano de distância da metrópole, criou-se um clima
propício à corrupção, em que o poder e a pessoa se confundiam e eram vistos como
uma coisa só, de acordo com Denise, que é professora de História do Brasil na
Unesp.
No entanto, a historiadora deixa claro que a corrupção não é uma
exclusividade do Brasil, é só uma peculiaridade da formação dessa
característica no país.
"Temos enraizado uma tradição muito forte de poder
relacionado ao indivíduo que o detém", avalia Denise. "E isso até
hoje interfere na maneira como vemos os direitos e deveres desse tipo de
funcionário."
Propina
"A coroa então era permissiva, deixava que trabalhassem aqui
sem vigilância. Se não, ninguém viria"
No Brasil colônia, assim como hoje, a corrupção permeava diversos
níveis do funcionalismo público, segundo a pesquisadora. Na época, atingia
desde o governador, passando por ouvidores, tabeliães e oficiais de justiça,
chegando até o funcionário mais baixo da Câmara, que era uma espécie de fiscal
de assuntos cotidiano.
A historiadora conta que documentos mostram esse funcionário
protegendo ou favorecendo um vendedor mediante propina.
Se a corrupção encontrou um terreno fértil nas instituições
políticas do litoral, a situação era ainda mais grave na colonização de regiões
como Minas Gerais, Goiás e o sul do país.
Ainda mais longe dos olhos da coroa, esses locais só eram
acessíveis após meses de caminhada - o que exigia ainda mais incentivos para os
"fidalgos-desbravadores".
"A coroa portuguesa estimulava pessoas e dizia: 'vão para o
interior e podem mandar à vontade por lá', na tentativa de garantir a soberania
do império com alguém morando no local", diz Denise.
A escravidão, segundo a historiadora, também contribuiu para o
desenvolvimento da corrupção no país. Isso porque era a única relação de
trabalho existente, deixando o trabalho livre sem qualquer tipo de norma para
regê-lo.
Essa realidade criava um ambiente vulnerável, em que não era
claro, por exemplo, os deveres de um guarda municipal - abrindo, de novo,
possibilidade de suborno e outros tipos de corrupção.
Fonte:
Mensalão e
Fujimori
"Normalmente, o que se vê nesses países é apenas um esforço
para melhorar as leis, como no caso do México, mas os ricos seguem sem ir para
cadeia", diz o pesquisador. "É importante ver punições, daí a
importância do mensalão ou de experiências em países como o Peru, que puniu
efetivamente o ex-presidente Alberto Fujimori."
É por o Brasil estar nesse momento-chave que Salas considera
extremamente importante o país ser a sede nesta semana da 15ª Conferência
Internacional Anticorrupção (IACC), um evento bienal organizado pela própria
Transparência Internacional e por sua representante no Brasil, a ONG Amarribo,
e pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Julgamento do mensalão foi citado como exemplo de mudança política
no país
Para Salas, a conferência vai mostrar o quanto o Brasil está sendo
observado pelo mundo, colocando mais pressão no país e servindo de incentivo
para intensificar o combate à corrupção.
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Cautela
Se comparado a anos anteriores, o diretor da Trasparência
Internacional diz que hoje os brasileiros estão mais conscientes sobre a
corrupção. Mas se esse é outro motivo para otimismo, ele justifica a cautela
com um alerta relacionado ao momento de euforia que o país vive, relacionado ao
crescimento econômico e ao fato de o país receber grandes eventos como a Copa
do Mundo.
"Quando um país começa a ter uma economia mais sólida, é mais
fácil ver um cidadão comum perdoando atos corruptos, porque ele não faz um
vínculo direito de como a corrupção o afeta", diz Salas. "Se agora
ele tem um bom trabalho, um carro e se o ministro rouba, ele fica irritado,
claro, mas acha que isso não o atinge diretamente."
No ranking de Percepção da Corrupção da ONG em 2011, o Brasil
ocupou a 73ª posição, entre 183 países. Já no que lista o grau de proprinas
pagas, o país ficou no 14º lugar - foram 28 países analisados.
O fato de o Brasil ocupar posições intermediárias nos rankings de
corrupção e propina reflete bem, segundo Salas, o que está acontecendo no país:
há muitos casos de corrupção, mas também muitas ações para combatê-la.
De qualquer jeito, o Brasil ainda tem muito o que avançar no
índice da corrupção, para se aproximar dos países que ocupam os primeiros
lugares, como Nova Zelândia, Dinamarca e Finlândia (empatados) e Suécia, e se
afastar de seus 'vizinhos' no ranking, como Tunísia e China.
Combater a corrupção no país significa reduzir um custo estimado
entre 1,38% a 2,3% do PIB, isto é, de R$ 50,8 bilhões a R$ 84,5 bilhões por
ano, de acordo com um estudo feito pela Fiesp (Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo) com base no PIB de 2010.
O menor valor daria para arcar com o custo anual de 24,5 milhões
de alunos das séries iniciais do ensino fundamental ou comprar 160 milhões de
cestas básicas ou ainda construir 918 mil casas populares.
Leia matéria completa em:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/11/121031_corrupcao_numeros_mdb.shtml
Leia também: Um total de 23% dos brasileiros não percebe que é corrupto
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